RIGIDEZ, IGNORANCIA, EXCESSO...

Melhor é a ênfase na educação recíproca.
Em virtude de questionamentos sobre a não utilização do regime Militar (mesmo que sejam cidadãos civis e que suas ações também sejam na comunidade), seguem algumas observações necessárias sobre democracia, cidadania, direitos humanos e equidade.
Segundo Jélvez (2006 apud BALESTRERI, 2006, p.6), o contrário da visão radicalizada de tal permissão à força, favorecedora de excessos, é igualmente perigosa e socialmente destrutiva. Pois, a truculência oficial funciona sempre como provocação da desordem pública, mesmo quando escudada no falso argumento de que se faz necessária para manter a ordem. Ademais, a violência é um fenômeno retro-alimentado, quando praticada por agente estatal, especialmente, semeia na sociedade elementos de fragilização moral, detonando, de forma rapidamente incontrolável, pulsões agressivas do inconsciente coletivo, que deveriam permanecer saudavelmente “recalcadas”, se as “figuras modelares” tivessem dado o bom exemplo.
Mesmo que isso não se justifique, sabemos que aqueles maltratados internamente tendem a descontar sua agressividade sobre os demais.
Evidentemente, a Brigada não funciona sem hierarquia. Há, contudo, clara distinção entre hierarquia e humilhação, entre ordem e submeti mento perverso.
Em alguns centros, escolas e academias (é claro que não em todos) os alunos parecem, ainda, ser “adestrados” e submetidos a toda ordem de maus-tratos (beber sangue no pescoço de galinha e/ou coelho, matar e se alimentar de animais silvestres/ serpentes, ficar em pé sobre formigueiro, horas dentro da água gelada de cachoeira, ser “afogado” na lama por superior hierárquico, comer fezes, praticar atos contrários a sua crença, são só alguns dos recentes exemplos que ouve a partir da narrativa de amigos Militares. Isso, sem relatar nos casos mais banais, de ordens dadas aos gritos, de preleções humilhantes e desmoralizadoras, do “rala” (exercício físico desproporcional às necessidades), utilizado como castigo, da imposição de serviços pessoais domésticos a superiores hierárquicos.
Há quem diga que tais práticas não mais existem que fazem parte do passado, que as denúncias compõem uma espécie de síndrome de “vitimismo” dos “praças”.
Acredita-se que muitas corporações tenham superado tais barbáries e indignidades, felizmente. Contudo, os relatos, filmagens, fotos e gravações que por vezes se observa, sejam apenas simples “conspiração” espontânea de soldados contra seus superiores.
Alguma coisa séria, como fenômeno de desrespeito, parece, ainda, subsistir em muitos lugares.
Por uma contaminação da ideologia militar, não se faz necessário submeter os alunos Brigadistas a violento estresse psicológico, a fim de atiçar-lhes a raiva contra o “inimigo” (nesse caso, o cidadão em emergência).
Tal rigor, coersão, violação interna dos Direitos Humanos dos alunos pode dar guarida à ação de personalidades sádicas e depravadas, que usam sua autoridade formal como cobertura para o exercício de suas doenças. Além disso, como os Brigadistas não vão lutar na extinta guerra do Vietnã (ao que se sabe, um dos focos históricos desse tipo de cultura de “adestramento”), mas atuar na comunidade, tal “formação” (deformadora) representa uma perda de tempo, produzindo apenas brutalidade, atraso técnico e incompetência.
De forma irônica, neste momento se faz necessário ressaltar a criação/ formação de “Taslinhas”; ou seja, profissionais com corpo de Tarzam e cabeça de galinha. Pois a verdadeira hierarquia só pode ser exercida com base na lei, na técnica e na lógica, longe, portanto, do personalismo e do autoritarismo doentios.
O respeito aos superiores não pode ser imposto na base da humilhação e do medo. Não pode haver respeito unilateral, como não pode haver respeito sem admiração. Não podemos respeitar aqueles a quem odiamos. A hierarquia é fundamental para o bom funcionamento da Brigada, mas ela só pode ser verdadeiramente valiosa por intermédio do exercício da liderança competente, o que pressupõe práticas bilaterais de respeito, segurança interior e seguimento de regras lógicas e supra pessoais.